quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cântico de Libertação

   

                                                              “O que foi feito amigo de tudo que a gente sonhou
                                                               O que foi feito da vida
                                                               O que foi feito do amor...” Milton Nascimento

    
     Estou a procura, cada vez mais incessante, daquela primitiva metafísica humana. Estou inserida fisicamente no caótico cenário contemporâneo, onde as relações - tanto entre os seres humanos, ou destes com a natureza, o cosmos, etc, quanto consigo mesmo - está em decadência. Será esta decadência conseqüência de uma deficiência do pensar? Talvez esta seja a patologia do século XXI. O pensar é uma característica que nos distingue dos outros animais, mas com o decorrer das décadas nossa virtude se tornou nossa miséria; pois o pensar é, antes de qualquer análise crítica ao mundo exterior, uma auto-reflexão de si próprio como ser humano; como indivíduo incluso num Todo.
     Será, talvez, a deficiência do sentir? Eu sinto, tu sentes, nós, deveras, sentimos?
     Torno-me, às vezes, desconhecida, enquanto ainda mantenho algumas películas sobre mim, que dizem ser minha personalidade. No entanto, quando estou em silêncio, apenas com minha respiração, que se torna síncope, eu sinto medo... medo de não saber quem sou. A minha aparência é apenas uma imagem falsa refletida, pois... não sou esta fotografia; a aparência é apenas uma invenção espontânea, e que quando nos damos conta, a fotografia está envelhecida...
      Pensar na velhice causa-me inércia, ao invés de inspiração.
      Esta cidade, todas estas construções homéricas, a mecanização do cotidiano, do homem, a ditadura da estética, a dinâmica inconseqüente do tempo-espaço... cadê o tempo? Eu quero o tempo natural das coisas, da natureza, da essência humana. Há tanto concreto que parece que tudo o que era essencial está entre escombros.  Será que apenas alguns vêem a decadência deste homem construído que anda nas ruas?, inconsciente da própria ignorância, da própria morte pré-concebida. Este homem, por não ser consciente da miséria de si próprio, aceita viver neste teatro, indiferente com o que há realmente atrás de todas as máscaras; apenas preocupado com a platéia, com os aplausos.
     E no fim, tudo é silêncio...
     Aos poucos, todos se desprendem da própria responsabilidade humana e a transfere para a política pública, para o Estado. Propagandas, marketing político, persuasivos projetos e um enraizamento no sistema capitalista, que nos distancia de nós mesmos, nos fazendo esquecer da nossa origem naturalmente libertária. A persistência num sistema que nos torna fantoches de uma civilização em ruínas é a persistência da negação de si mesmo enquanto ser pensante e sensível.
     Esta sociedade me desencanta... mas é deste desencanto que surge minha Vontade de cantar o avesso do que me impõem. Quero transformar minha palavra num cântico de libertação.

                                                                                                     “Falo assim sem tristeza
                                                                                                      Falo por acreditar [...]
                                                                                                      E nós iremos crescer” 

Nenhum comentário:

Postar um comentário